São Paulo, 12 de dezembro de 2011.
Para os colegas educadores.
Feliz Ano Velho na Escola Oswaldo Aranha!
Ufa! O ano acabou. Estamos todos ansiosos
para entrar no Recesso, trocar presentes, comer, beber, festejar. O que mesmo?
O ano que termina ou o que irá começar? O que terminou já passou; o próximo
ainda é futuro. Festejemos, portanto, o presente, o minuto, o segundo expandido
pela alegria de que AS FÉRIAS COMEÇARAM...
Do fundo do nosso cansaço temos a impressão que este ano foi TERRÍVEL,
dificílimo. Se prestarmos atenção achávamos o mesmo no final de 2010.
Mas como nosso assunto é o ano de 2011 no
velho Oswaldo Aranha, falemos dele; houveram embates, debates, enfrentamento,
recuos, tentativas de acordo, desacordos, muitas tensões. Alguns dirão que
estas foram acima do suportável, que o stress
esteve presente cotidianamente, que foi muito duro, que não valeu a pena.
Tenho, em várias ocasiões, discordado disto e, radicalizando, afirmado que este
foi um dos melhores anos da unidade nestes cinco que cá estou. Maluco? Pirado?
Amante da “Faixa de Gaza”?(1)
Absolutamente não! Este ano teve uma grande
3ª Semana de Meio Ambiente com grandes produções de professores; estes,
corajosamente, fizeram reinvindicações para seu seguimento e foram atendidos em
algumas coisas; o Conselho de Escola teve destaque em decisões tomadas como foi
o caso dos referendos de POIES e POSL. Foi um ano de ganhos inclusive no que
tange a sermos mais ativos, construtores, produtores de possibilidades. Mais
foi tenso, teve disputa, luta.
Vimos uns dois ou três pequenos textos de
Frederick Nietzsche na JEIF onde este filósofo insiste em que a vida sempre quer se expandir, que é luta
e não paz; que tem alegria e dor; que a paz é o fim, a morte. Se pararmos
de idealizar, de mentir para nós mesmos que a vida pode ser mais tranquilidade
que turbulência, que pode ser “um mar de rosas” (imagem idiota), veremos que o
que fizemos no Aranha este ano foi exercitar nossa humanidade, brigar pelo que
achamos correto, buscar nossa expansão.
A quem diga que a dificuldade em enxergar
que obtivemos ganhos esta relacionada à nossa falta de desejo, ao nosso péssimo
habito de cuidarmos pouco de nós mesmos por termos esquecido que dentro de cada
um de nós, homens e mulheres, educadores e educadoras, existe, anestesiada, uma
pujante potencia, uma desperdiçada força.
Debater, discordar, falar franco um com o
outro, exigir o que cabe a cada um não só de responsabilidade, mas de alegria e
prazer, não pode ser motivo para rancor, afastamento, ressentimento. Ao contrário! Pode abrir a possibilidade de experimentarmos
a rara alegria de se estar fazendo algo que realmente signifique. Re-significar,
enxergar outros signos, escapar da falta de significados que insistem em nos
submeter. Fugir da alegria fútil
proporcionada pelos deuses do consumo e da alienação.
Quero insistir que 2011 foi um ano
frutífero já que todos os anos que estamos vivos são bons. Se em 2012
continuarmos buscando ser, individualmente, mais livres, mais fortes, mais
corajosos, mesmo que isto implique ainda mais tensão, o ano que se aproxima
será ainda melhor que este que se finda.
(1) Expressão usada
pela professora Maria Regina que se significa inferno, lugar insuportável,
perigo permanente. Pode deixar transparecer que a culpa da Faixa de Gaza ser um
inferno é dos palestinos e não dos israelenses.
Abraço a todos.
Samuel
Firmo
Coordenador Pedagógico
Para Encerrar o 1º Semestre de 2011
Iniciamos o semestre, em nossa JEIF, discutindo os porquês dos professores (as) apresentarem tanta resistência contra qualquer questionamento ao seu trabalho, como se fosse possível “a gente nascer sabendo”. Como se o professor fosse o único profissional que não precisa de tempo para adquirir traquejo, manha, enfim, para ir descobrindo os segredos de sua profissão. A visão que o professor tem de si de que é quase um ser perfeito, livre da possibilidade de errar.
Neste sentido lemos e discutimos um conto que “tira o professor deste Olimpo”, que o coloca no mundo real. O professor erra, precisa “eventualmente” ter sua atenção chamada para erros que esta cometendo e esta é uma função de sua chefia, em tese, uma pessoa mais experiente, com mais conhecimento específico. Aquele texto pretendia dizer ao professor que se ele nunca acha que errou, se se considera acima das coisas, nunca vai rever sua prática, nunca será educador. Também me incomodava ali certa postura “arrogante” do professor, certa autonomia, certa consciência, talvez herdada da tradição, de que este navega solitário ao estilo daquele professor de 120 anos (1) atrás que ensinava no Brasil para alunos filhos de fazendeiros
e que bastava tentar repassar o que sabia longe de Sistemas de Educação. Hoje existem
métodos, diretrizes etc, e o professor parece exercitar frente a estes uma mal
disfarçada desobediência
Entretanto, com o
decorrer do semestre, acabei fazendo leituras que ampliaram minhas dúvidas e
ambiguidades. Uma delas: (2)“Qualquer que seja o poder, o papel do individuo
consiste em opor uma resistência determinada, uma insubmissão feroz àquilo que
requer a autoridade.” Outra: (3)”...instalando a ética e a politica sobre o
perpetuo terreno da resistência...Resistir,...,nunca colaborar, nunca ceder...a
essência da força libertária é resistência manifesta, que pode se ativar em
toda sociedade, quaisquer que sejam as geografias e as histórias. Ainda outra: (4)“Mas
logo nem sequer festa existirá para os *senhores-escravos,
para os últimos homens hierárquicos, somente a tristeza das coisas, uma
serenidade soturna, o mal-estar do papel, a consciência do nada ser.”
Obviamente que estes textos, pinçados desta forma, não traduzem o que quer
dizer o autor que no caso referia-se a movimentos e a sociedade. Entretanto,
não há dúvida que louva a atitude de indivíduos que praticam uma constante
resistência ao poder organizado hierarquicamente. Mais: coloca esta “prática da
resistência” como central na desconstrução do poder que oprime.
E agora José? O professor é um resistente nato
à hierarquia? Há no professor, diferentemente que em trabalhadores fabris, uma
vontade de não se deixar domar, domesticar, se permitir rebanho? Se isso for
verdade, esta característica do professor merece ser não só cultivada, mas
também incentivada. O professor porta um germe de liberdade, de desobediência, que
brilha como uma luz na escuridão da obediência cega que nos une a todos.
Entretanto, como vim
para confundir e não para explicar, o professor desobedece e se comporta como
um libertário diante de coordenadores, diretores e outros tantos entes
hierárquicos. Mas ele também é hierarquia perante seus alunos quando está em
sala de aula. Como age então o professor diante do aluno que desobedece?
Afinal, este também não está questionando a hierarquia? Também não podemos
esquecer que a desobediência precisa ser qualificada. Ela não pode nunca
prejudicar ao mais fraco. Se a desobediência de um professor for,
eventualmente, não ensinar seus alunos como às vezes acontece, deixando-o sem
aprender, julgando estar se opondo a chefia e ao Sistema, esta desobediência
não vale. Ela precisa ter um fundo ético.
Portanto, agora, no
momento em que o semestre termina, estou plenamente convencido de que exercer
uma desobediência ativa contra o poder é fundamental para não sucumbirmos
diante de tanta mentira utilizada para manter a todos sob a alienação. Também
passei a considerar a vontade de desobedecer dos professores como algo
positivo. A questão é como exercitar isto no mundo real. Como administrar o
fato de que, às vezes, podemos ser “desobedecedores resistentes” ou “obedecedores
cegos”, mas com certeza, de um modo ou de outro, somos o tempo todo hierarquia.
Quero aprender administrar a desobediência de professores, eu um simpatizante
da desobediência, que como coordenador pedagógico sou representante da hierarquia.
(1)Aos
Meus Romanos –Von Binzer, Ina
(2)A
Política do Rebelde –Onfray, Michel –pag 183
(3)
A Política do Rebelde –Onfray, Michel –pag 195
(4)A
Arte de Viver para as Novas Gerações –Raoul Vaneigem – Pag 223
*senhores-escravos – Aquele que é senhor
por uma delegação. Que sempre tem acima de si alguém que o governa.
Bom
recesso.
Coordenador